Por Susilaine Moraes Aquino
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é condição neurodivergente prevalente, caracterizada por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, que impactam significativamente o funcionamento cognitivo, emocional e social dos indivíduos. Embora o tratamento convencional inclua intervenções farmacológicas, como psicoestimulantes (por exemplo, metilfenidato) e abordagens psicoterapêuticas, há crescente interesse em terapias não farmacológicas, particularmente na Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (tDCS), como alternativa ou complemento aos métodos tradicionais.
A tDCS é técnica não invasiva de neuromodulação que utiliza correntes elétricas de baixa intensidade (geralmente entre 1 e 2 mA) para modular a excitabilidade cortical. A corrente é aplicada por meio de eletrodos posicionados no couro cabeludo, visando regiões cerebrais específicas associadas ao controle executivo, atenção e regulação emocional, como o córtex pré-frontal dorsolateral (DLPFC). A tDCS pode ter efeitos excitatórios ou inibitórios, a depender da polaridade da corrente: a anódica (positiva) aumenta a excitabilidade neuronal, enquanto a catódica (negativa) a reduz.
No contexto do TDAH, a tDCS tem sido investigada como ferramenta promissora para modular a atividade neural em redes corticais e subcorticais disfuncionais. Estudos preliminares sugerem que a estimulação anódica do DLPFC pode melhorar a atenção sustentada, a memória de trabalho e o controle inibitório, aspectos frequentemente comprometidos no TDAH. Além disso, a tDCS pode potencializar os efeitos de intervenções comportamentais e cognitivas, promover neuroplasticidade e facilitar a reorganização funcional do cérebro.
Apesar dos resultados encorajadores, é importante destacar que a aplicação clínica da tDCS no tratamento do TDAH ainda está em fase de investigação. Estudos randomizados, controlados por placebo e com amostras maiores são necessários para estabelecer protocolos otimizados, e isso inclui parâmetros de estimulação (intensidade, duração, localização dos eletrodos) e a frequência das sessões. Adicionalmente, é fundamental considerar a variabilidade individual na resposta à tDCS, influenciada por fatores como anatomia cerebral, estado basal de excitabilidade cortical e comorbidades neurológicas.
Em termos de segurança, a tDCS é geralmente bem tolerada, com efeitos colaterais leves e transitórios, como coceira, formigamento ou vermelhidão no local da aplicação. No entanto, a supervisão por profissionais capacitados é essencial para garantir a adequação do tratamento e minimizar riscos.
Em síntese, a tDCS representa abordagem inovadora e potencialmente transformadora no manejo do TDAH, oferece alternativa não farmacológica com baixo perfil de efeitos adversos. Contudo, sua incorporação à prática clínica requer evidências robustas e a padronização de protocolos, a fim de maximizar os benefícios terapêuticos e garantir a segurança dos pacientes. À medida que a pesquisa avança, a tDCS pode se consolidar como ferramenta valiosa no arsenal terapêutico para o TDAH, e assim contribuir para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados por esse transtorno.
Fonte: Instituto Shen