Por Susilaine Moraes Aquino
A retinose pigmentar (RP) é doença genética degenerativa que afeta os fotorreceptores da retina (principalmente os bastonetes), leva à perda progressiva da visão. Embora não haja cura definitiva para a RP, diversas técnicas com a estimulação transcraniana e fotobiomodulação transcutânea têm sido investigadas como abordagens terapêuticas para retardar a progressão da doença, promover neuroproteção e melhorar a função visual residual. Essas técnicas modulam a atividade cerebral e indiretamente a retina, e com isso oferecerem benefícios significativos.
PRINCIPAIS TÉCNICAS DE ESTIMULAÇÃO APLICÁVEIS À RETINOSE PIGMENTAR
ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA TRANSCRANIANA E PERIFÉRICA
Existem diferentes abordagens para aplicar a estimulação elétrica periférica no tratamento da retinose pigmentar:
1. Estimulação Elétrica Transcraniana (tES):
- tDCS (Estimulação por Corrente Contínua): Aplica-se corrente elétrica de baixa intensidade no couro cabeludo, para modular a atividade cerebral e indiretamente a retina.
- tACS (Estimulação por Corrente Alternada): Utiliza-se correntes oscilatórias para sincronizar a atividade neural.
- tRNS (Estimulação por Ruído Randômico): Aplica-se correntes com amplitude e frequência variáveis para induzir plasticidade neural.
2. Estimulação Elétrica Transcraneana ou Periférica:
- Aplica-se correntes elétricas na região periocular para estimular a retina.
- Pode ser realizada com eletrodos específicos e/ou dispositivos como máscara ocular de estimulação elétrica.
3. Estimulação do Nervo Óptico:
- Aplica-se correntes elétricas diretamente na região do nervo óptico para modular a transmissão de sinais visuais ao cérebro.
4. Estimulação do Nervo Vago (VNS):
- A estimulação do nervo vago, que está conectado a várias regiões do cérebro, pode indiretamente modular a atividade visual e promover neuroproteção.
Protocolos de Estimulação:
Os protocolos de estimulação elétrica periférica para RP continuam em fase de pesquisa, mas alguns parâmetros comumente utilizados incluem:
- Intensidade da Corrente: a depender da fase do tratamento.
- Duração da Sessão: a depender dos protocolos aplicados.
- Frequência: a depender da técnica (corrente aplicada tDCS, tACS ou faixas específicas para tRNS).
- Número de Sessões: Variável, mas geralmente entre 10 a 20 sessões, realizadas diariamente ou em dias alternados (fase de indução). Sessões quinzenais ou mensais (fase de manutenção).
Indicações e Benefícios:
A estimulação elétrica periférica pode ser indicada para pacientes com retinose pigmentar que apresentam:
- Perda progressiva da visão periférica (visão em túnel).
- Dificuldade de adaptação à baixa luminosidade (cegueira noturna).
- Redução da acuidade visual.
- Necessidade de retardar a progressão da doença.
Benefícios Potenciais:
- Melhoria da função visual residual.
- Retardo da degeneração retiniana.
- Aumento da sensibilidade ao contraste e à luz.
- Melhoria da qualidade de vida.
Evidências Científicas:
Estudos preliminares e ensaios clínicos têm demonstrado resultados promissores:
- Estudo publicado na Nature (2017) mostrou que a estimulação elétrica melhorou a sensibilidade à luz e a acuidade visual em pacientes com RP.
- Outros estudos sugerem que a tDCS pode modular a atividade cerebral associada ao processamento visual e melhorar a percepção visual em pacientes com degeneração retiniana.
Modo de Aplicação:
- Avaliação Inicial:
- O paciente deve passar por avaliação oftalmológica completa, pelo oftalmologista que o acompanha, para determinar o estágio da doença e a função visual residual.
- Configuração do Equipamento:
- O dispositivo de estimulação é configurado com os parâmetros adequados (intensidade, frequência, duração).
- Aplicação da Estimulação:
- O paciente recebe a estimulação em ambiente controlado, por profissional habilitado e habilidoso.
- Monitoramento:
- O progresso é monitorado através de exames oftalmológicos e relatos subjetivos do paciente.
Modo de Avaliação:
A eficácia da estimulação elétrica periférica pode ser avaliada através de:
- Autorrelato do Paciente:
- Relatos subjetivos de melhoria na visão ou na qualidade de vida.
- Exames Clínicos:
- Realizados pelo Retinólogo Responsável pelo acompanhamento do paciente.
FOTOBIOMODULAÇÂO TRANSCUTÂNEA PARA RETINOSE PIGMENTAR
A fotobiomodulação (FBM), também conhecida como terapia com luz de baixa intensidade (LLLT, do inglês Low-Level Laser Therapy), é técnica terapêutica que utiliza luz visível ou infravermelha para modular processos biológicos em nível celular. No contexto da retinose pigmentar (RP), uma doença genética degenerativa que afeta os fotorreceptores da retina (principalmente os bastonetes), a FBM tem sido investigada como uma abordagem promissora para retardar a progressão da doença, promover neuroproteção e melhorar a função visual residual.
Mecanismo de Ação da Fotobiomodulação
1. Absorção da Luz por Cromóforos Intracelulares:
A FBM utiliza luz em comprimentos de onda específicos (geralmente entre 600-1000 nm), que são absorvidos por cromóforos intracelulares, como o citocromo c oxidase (Complexo IV da cadeia respiratória mitocondrial). Essa absorção de luz desencadeia série de eventos bioquímicos que promovem efeitos terapêuticos.
2. Aumento da Produção de ATP:
- A absorção de luz pelo citocromo c oxidase estimula a cadeia respiratória mitocondrial, aumenta a produção de adenosina trifosfato (ATP), a principal molécula de energia celular.
- O aumento de ATP melhora a função celular, especialmente em células retinianas que estão sob estresse metabólico devido à degeneração.
3. Redução do Estresse Oxidativo:
- A FBM promove a redução de espécies reativas de oxigênio (ROS), que são moléculas altamente reativas que danificam as células e contribuem para a degeneração retiniana.
- Ao modular o equilíbrio redox, a FBM protege as células retinianas do dano oxidativo, um dos principais mecanismos patológicos da retinose pigmentar.
4. Ativação de Fatores Neurotróficos:
- A FBM estimula a liberação de fatores neurotróficos, como o BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro) e o Fator de Crescimento Neural (NGF).
- Esses fatores promovem a sobrevivência, diferenciação e plasticidade das células retinianas, ajudam a preservar a função visual.
5. Melhoria da Circulação Sanguínea:
- A FBM induz a vasodilatação e aumenta o fluxo sanguíneo na retina, e com isso fornece mais oxigênio e nutrientes para as células retinianas.
- Isso é particularmente importante na RP, onde a degeneração dos fotorreceptores pode levar à redução da vascularização retiniana.
6. Modulação da Inflamação:
- A FBM tem efeitos anti-inflamatórios, reduz a liberação de citocinas pró-inflamatórias e promove ambiente celular mais favorável à reparação e regeneração.
- Isso ajuda a controlar a inflamação crônica associada à degeneração retiniana.
7. Promoção da Neuroplasticidade:
- A FBM pode modular a atividade de células ganglionares da retina e outras células neurais, promove a neuroplasticidade e a reorganização funcional das vias visuais.
- Isso pode ajudar a compensar a perda de fotorreceptores e melhorar a transmissão de sinais visuais ao cérebro.
Aplicação da Fotobiomodulação na Retinose Pigmentar
Protocolos de Tratamento:
- Comprimento de Onda: Luz vermelha (630-670 nm) ou infravermelha próxima (810-850 nm), que penetram profundamente nos tecidos da região ocular.
- Intensidade da Luz: Baixa intensidade (5-50 mW/cm²), para evitar danos térmicos e garantir efeitos terapêuticos.
- Duração da Sessão: A depender do dispositivo e do protocolo.
- Frequência das Sessões: A depender da fase do tratamento.
Métodos de Aplicação:
- Dispositivos de FBM: dispositivos portáteis que emitem luz.
- Segurança: A FBM é não invasiva e geralmente bem tolerada, com baixo risco de efeitos adversos.
Evidências Científicas:
- A prática clínica tem demonstrado que a FBM pode retardar, ou até mesmo estacionar a degeneração retiniana, melhorar a função visual e aumentar a sobrevivência dos fotorreceptores em modelos de RP, melhorar a acuidade visual, a sensibilidade ao contraste e a adaptação à baixa luminosidade.
Considerações Finais:
A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) representa abordagem promissora no tratamento complementar de condições oftalmológicas, com potencial para melhorar a visão residual e a qualidade de vida dos pacientes.
A fotobiomodulação igualmente é abordagem terapêutica promissora para o tratamento da retinose pigmentar, com mecanismos de ação que incluem aumento da produção de ATP, redução do estresse oxidativo, ativação de fatores neurotróficos e melhoria da circulação sanguínea. Embora mais pesquisas sejam necessárias para estabelecer protocolos padronizados e comprovar sua eficácia em larga escala, a FBM representa esperança para pacientes com RP, por oferecer terapia não invasiva e segura.
No entanto, em ambas as técnicas a aplicação deve ser realizada por profissional capacitado e integrada ao acompanhamento oftalmológico especializado.
No Instituto Shen, estamos comprometidos em oferecer as mais avançadas técnicas de neuromodulação por meio de eletroestimulação e de fotobiomodulação, terapias complementares e orientação psicológica. Priorizamos a excelência no atendimento, a segurança dos pacientes e a transparência no processo terapêutico, para ajudar pacientes com retinose pigmentar a preservar e melhorar sua visão. Para mais informações ou agendamento de avaliação, entre em contato conosco.
Fonte: Instituto Shen