Por Susilaine Moraes Aquino – Especialista em Fotobiomodulação
A Terapia Fotodinâmica (PDT) estabelece-se como modalidade terapêutica minimamente invasiva e altamente versátil, fundamentada em princípios da fotoquímica. Seu protocolo combina de forma sinérgica três componentes essenciais: um fotossensibilizante (FS), oxigênio molecular tecidual (O₂) e luz em um comprimento de onda específico. A interação destes elementos desencadeia reação fotodinâmica, gerando Espécies Reativas de Oxigênio (EROs) citotóxicas, que promovem a destruição seletiva de células-alvo, como neoplasias, microrganismos ou tecidos disfuncionais.
Modo de Ação
O mecanismo de ação da PDT é processo fotoquímico sequencial. Inicia-se com a administração tópica ou sistêmica de um agente fotossensibilizante, que exibe afinidade seletiva por estruturas-alvo. Após um período de incubação para sua acumulação, o tecido é irradiado com luz em um comprimento de onda correspondente ao pico de absorção do FS. O FS em seu estado fundamental absorve a energia luminosa, sendo promovido a estado excitado singlete. Através de conversão intersistemas, este estado converte-se em estado tripleto, de maior estabilidade.
É a partir deste estado tripleto que ocorrem as reações citotóxicas primárias, por dois mecanismos:
- Mecanismo Tipo I (Reação de Transferência de Elétrons): O FS excitado reage com substratos celulares, gerando radicais livres que, na presença de oxigênio, produzem EROs como o ânion superóxido (O₂•⁻).
- Mecanismo Tipo II (Reação de Transferência de Energia): Este é o mecanismo predominante. O FS excitado transfere sua energia diretamente para o oxigênio molecular, convertendo-o em oxigênio singlete (<sup>1</sup>O₂), uma ERO extremamente reativa e responsável pela maior parte do dano celular.
As EROs geradas causam estresse oxidativo irreversível, levando a danos na membrana celular, desorganização de organelas, indução de apoptose e/ou necrose, resultando na obliteração do tecido-alvo.
Procedimento de Aplicação
A aplicação da PDT é protocolo sequencial que demanda precisão. Inicia-se com a preparação do leito, envolvendo limpeza e, se necessário, uma leve curetagem para remover barreiras à penetração. Em seguida, o fotossensibilizante (como o Ácido 5-aminolevulínico – ALA) é aplicado topicamente. A área é então ocluída e mantida em repouso por período de incubação crítico (1 a 4 horas), permitindo a bioconversão e acumulação intracelular do agente ativo (Protoporfirina IX). Após a remoção do excesso do creme, realiza-se a irradiação com fonte de luz de comprimento de onda apropriado (ex.: 415 nm ou 630 nm), onde dose, potência e tempo de exposição são calculados meticulosamente. O pós-procedimento exige fotoproteção rigorosa por pelo menos 48 horas para prevenir a fototoxicidade residual.
Indicações
O espectro de aplicações da PDT é vasto, destacando-se em:
- Dermatologia: Tratamento de Ceratose Actínica, Carcinoma Basocelular superficial, Doença de Bowen, Acne Grau II-IV (atuando de forma bactericida no Cutibacterium acnes e reduzindo a atividade sebácea), foto rejuvenescimento e terapia antimicrobiana.
- Odontologia: Descontaminação periodontal e tratamento de lesões potencialmente malignas da cavidade oral.
- Oncologia: Como modalidade adjuvante no tratamento de tumores sólidos em diversos órgãos.
Cuidados
A segurança e eficácia do tratamento dependem de cuidados rigorosos:
- Seleção do Paciente: É imperativa anamnese detalhada, investigando fotossensibilidade, alergias (especialmente ao ALA), uso de medicamentos fotossensibilizantes e condições como porfiria.
- Proteção Fotodinâmica: Deve-se enfatizar a evitação estrita de exposição solar e fontes de luz intensa por 24 a 48 horas após o procedimento. O uso de roupas protetoras e fotoprotetores de amplo espectro é mandatório para prevenir queimaduras graves.
- Gestão de Efeitos Adversos: Sensações de ardência e calor durante a irradiação são comuns. No pós-operatório, eritema, edema e descamação são esperados, requerendo orientação para manejo sintomático.
- Parâmetros Técnicos: A calibração do equipamento e o cálculo preciso da dose energética são fundamentais para resultados otimizados, evitando danos térmicos ou subdosagem.
- Contraindicações: Incluem gestação e lactação (para FS sistêmicos), alergia conhecida aos componentes e porfiria.
Conclusão
A Terapia Fotodinâmica consolida-se como ferramenta de grande valor na prática clínica moderna. Seu caráter seletivo, associado a mecanismo de ação baseado em sólidos princípios fotobiológicos, a torna opção eficaz e segura para diversas condições. O sucesso de sua aplicação, no entanto, está intrinsecamente ligado ao conhecimento técnico aprofundado do profissional, garantindo a execução de protocolos seguros e a maximização dos resultados terapêuticos.
Fonte: Instituto Shen

