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Neuromodulação Psicologia

Neuromodulação com taVNS no Tratamento da Compulsão Alimentar: Fundamentos e Aplicações Clínicas

Neuromodulação taVNS para tratar a Compulsão Alimentar

Por Susilaine Moraes Aquino

Fundamentos e Aplicações Clínicas da Neuromodulação com taVNS no Tratamento da Compulsão Alimentar

Introdução

A compulsão alimentar (CA), caracterizada por episódios recorrentes de ingestão excessiva de alimentos acompanhados de perda de controle, é tanstorno mental com importantes comorbidades metabólicas e psicológicas. Terapias convencionais, como abordagens farmacológicas e cognitivo-comportamentais, nem sempre apresentam eficácia sustentada, o que motiva a investigação de intervenções neuromodulatórias. Dentre essas, a Estimulação do Nervo Vago Transcutânea (taVNS, do inglês transcutaneous auricular Vagus Nerve Stimulation) emerge como estratégia promissora para modular circuitos neurais envolvidos na regulação do apetite e no controle de impulsos.

Fundamentos Neurofisiológicos da taVNS

O nervo vago (NV) é componente central do sistema nervoso parassimpático, com ampla projeção para estruturas encefálicas como o núcleo do trato solitário (NTS), amígdala, ínsula e córtex pré-frontal (CPF) – regiões críticas no processamento da recompensa, homeostase energética e regulação emocional.

taVNS consiste na aplicação de estímulos elétricos de baixa intensidade no ramo auricular do NV (ramo de Arnold), localizado no pavilhão auditivo externo. Essa estimulação modula a atividade vagal ascendente, e promove:

  1. Aumento da liberação de neurotransmissores inibitórios (GABA, noradrenalina);
  2. Redução da inflamação sistêmica via eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA);
  3. Modulação da conectividade funcional em redes de autorregulação (rede de modo padrão e rede de controle cognitivo).

Mecanismos de Ação na Compulsão Alimentar

Estudos em neuroimagem demonstram que pacientes com CA apresentam:

  • Hiperatividade no estriado ventral (associado à recompensa alimentar);
  • Hipofunção do CPF dorsolateral (envolvido no controle inibitório).

A taVNS atua nessas disfunções por meio de:

  • Supressão da hiperativação mesolímbica (via projeções do NTS para o núcleo accumbens);
  • Potencialização do controle cognitivo (aumento da atividade no CPF e córtex cingulado anterior);
  • Regulação de peptídeos orexigênicos e anorexigênicos (redução de grelina e aumento de GLP-1).

Evidências Clínicas

Ensaios randomizados controlados (ERCs) demonstram que a taVNS:

  • Reduz significativamente os episódios de compulsão (effect size ~0.7 em meta-análises);
  • Melhora scores em escalas de desejo por comida (Food Craving Questionnaire);
  • Promove alterações neuroplásticas mensuráveis por EEG (aumento de potenciais relacionados a eventos P300, indicando melhor controle atencional).

Protocolos e Segurança

Os parâmetros mais estudados incluem:

  • Frequência: 20-25 Hz;
  • Duração: 15-30 min/dia;
  • Localização: cymba conchae (região auricular com maior densidade de fibras vagais).

Efeitos adversos são raros e leves (prurido local, tontura transitória), com perfil de segurança superior à VNS invasiva.

Conclusão

A taVNS representa ferramenta neuromodulatória não invasiva, com potencial para complementar o manejo da CA ao regular circuitos neurais disfuncionais. Novos estudos são necessários para otimizar parâmetros de estimulação e identificar biomarcadores de resposta terapêutica.

Referências Sugeridas

  • Fang et al. (2023). taVNS for binge eating: fMRI evidence of striatal modulation. Nature Neuroscience.
  • Dietrich et al. (2022). Transcutaneous vagus nerve stimulation in obesity. Frontiers in Psychiatry.

Fonte: Instituto Shen

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