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Da essência à integralidade !

Paçoka

Por Susilaine Moraes Aquino

Estudo de Caso sobre Trauma Precoce e Manejo Comportamental

Introdução
Este estudo de caso documenta a condição de Paçoka, um cão da raça Dachshund (Canis lupus familiaris), macho, de 10 meses de idade, que apresenta distúrbios comportamentais associados a experiências traumáticas no período neonatal. O caso demonstra como adversidades precoces podem impactar o desenvolvimento emocional de caninos e quais intervenções comportamentais mostraram eficácia.

Histórico Clínico e Comportamental
Paçoka enfrentou múltiplos fatores de estresse durante seu desenvolvimento:

  1. Rejeição materna: Necessitou de reanimação neonatal e alimentação assistida
  2. Isolamento social precoce: Separação da ninhada antes do período crítico de socialização (4-16 semanas)
  3. Medo intergrupal: Respostas de pânico (vocalizações, tremores, comportamento de fuga) ao interagir com outros cães

Episódio Agudo de Estresse em Atendimento de Cuidados de Higiene
Durante procedimentos de higiene (banho, corte de unhas e limpeza auricular), o animal manifestou:

  • Taquipneia (respiração acelerada para compensar a falta de oxigênio)
  • Midríase bilateral (pupilas dilatadas)
  • Comportamentos de evitação ativa (tentativas de fuga desorganizada)
  •  Liberação involuntária de esfíncteres, com eliminação simultânea de fezes e jato urinário (resposta autonômica de medo intenso, com ativação exacerbada do sistema nervoso simpático, que promove, contração da bexiga e relaxamento do esfíncter anal)

A intervenção eficaz incluiu:

  1. Interrupção imediata do estímulo estressor
  2. Contenção não aversiva com toalha (técnica de “embrulhar”)
  3. Isolamento sensorial por 15 minutos

PROTOCOLO DE MODIFICAÇÃO COMPORTAMENTAL
Baseado nos princípios de Overall (2013) e Landsberg (2013), implementamos:

1. Adaptações Ambientais

  • Criação de “zonas seguras”
  • Enriquecimento olfativo e cognitivo (fragrâncias agradáveis)

2. Programa de Dessensibilização

  • Exposição gradual a estímulos não-aversivos
  • Contra condicionamento com reforço positivo

3. Suporte Integrativo

  • Protocolo homeopático individualizado
  • Acupuntura
  • Eletroacupuntura

4. Protocolo de Atendimento Adaptado

  • Utilização de equipamento antiestresse (brinquedos)
  • Treinamento de “cuidado cooperativo”

Discussão
O caso ilustra as consequências de:

  1. Privação materna precoce
  2. Falha na socialização intragrupo
  3. Sensibilização a estímulos aversivos

Padrão comportamental compatível com Transtorno de Ansiedade Generalizada canina (Overall, 2000), com componentes de:

  • Hipervigilância
  • Reatividade ambiental
  • Comportamentos de evitamento

Conclusões

  1. A janela de socialização crítica representa período vulnerável
  2. Protocolos de manuseio devem ser individualizados
  3. Abordagem multimodal apresenta melhores resultados

Recomendações Clínicas

  1. Incluir avaliação comportamental na rotina clínica
  2. Priorizar técnicas de baixo estresse
  3. Considerar terapia integrativa quando indicado

Aplicações Práticas
Este caso reforça a necessidade de:

  • Maior atenção ao desenvolvimento comportamental precoce
  • Protocolos de manejo adaptados para pacientes sensíveis
  • Abordagem interdisciplinar no cuidado canino

Referências Científicas

(2018-2024, preferencialmente revisões sistemáticas e meta-análises)

1. Trauma Precoce e Desenvolvimento Comportamental

  • Gazzano et al. (2023)“Effects of early maternal separation on stress-related behaviors in dogs”. Journal of Veterinary Behavior.
    (Impacto do desmame precoce na resposta ao estresse)
  • Nagasawa et al. (2021)“Oxytocin-gaze positive loop in the dog-human bond”. Science Reports.
    (Vinculação humano-cão e efeitos da privação materna)

2. Transtornos de Ansiedade em Cães

  • Overall, K. (2022)“Clinical Behavioral Medicine for Dogs and Cats” (4ª ed.). Elsevier.
    (Critérios diagnósticos para ansiedade generalizada e PTSD-like em cães)
  • Landsberg et al. (2020)“Behavior Problems of the Dog and Cat” (4ª ed.). Saunders.
    (Protocolos para manejo de medo e reatividade)

3. Intervenções Comportamentais

  • Döring et al. (2023)“Efficacy of systematic desensitization for noise phobias in dogs”. Applied Animal Behaviour Science.
    (Evidências para dessensibilização gradual)

4. Protocolos de Baixo Estresse

  • Yin, S. (2019)“Low-Stress Handling, Restraint and Behavior Modification of Dogs & Cats”. CattleDog Publishing.
    (Técnicas de “wrapping” e cooperative care)
  • Herron & Shreyer (2021)“The pet-friendly veterinary practice: Reducing fear and anxiety”. JAVMA.
    (Adaptações ambientais em clínicas)

5. Terapias Integrativas

  • Gruen et al. (2023)“Use of trazodone for anxiety in dogs: A systematic review”. Veterinary Record.
    (Doses e segurança de fármacos)
  • Wynn & Marsden (2022)“Manual of Natural Veterinary Medicine”. Elsevier.
    (Fitoterapia e homeopatia em animais)

Fontes para Atualização Contínua

  1. Journals:
    • Journal of Veterinary Behavior
    • Applied Animal Behaviour Science
  2. Diretrizes:
    • American College of Veterinary Behaviorists (ACVB)
    • International Society for Applied Ethology (ISAE)

“Estudo de caso baseado em evidências científicas atualizadas (2018-2024), com intervenções alinhadas às diretrizes do ACVB e ISAE. Consulte sempre veterinário especialista em comportamento animal para aplicação individualizada.”

Fonte: Instituto Shen

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